O percurso visual desta exposição foi pensado a partir desta pergunta que lhe dá título e que evoca temas fundamentais da nossa relação entre seres humanos. Estes 26 painéis nos levam a uma viagem pelo mundo da moradia tentando compreender esse direito básico, presente em documentos referenciais como a nossa Constituição Cidadã de 1988 e a Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948.

Esta narrativa é resultado de duas vertentes: a primeira, a pesquisa no acervo da Habitat para a Humanidade Internacional, que reúne mais de 6 mil fotos de diversos países. A segunda, a documentação fotográfica realizada especialmente para este projeto por Ricardo Zaim, em Heliópolis, na cidade de São Paulo, e Maíra Erlich, em Riacho das Almas, um espaço rural de Pernambuco. Ambos nos apresentam um olhar inquieto e humanizado a respeito das pessoas com quem se relacionaram e que revelam uma imagem latente da dignidade, apesar da precariedade das condições de habitação de boa parte dos brasileiros.

No caso de Zaim, ele também visitou o centro da cidade, onde encontrou uma situação inaceitável neste país rico, porém injusto e desigual – pessoas em situação de rua, que infelizmente se tornam invisíveis ao poder público.

Todos os fotógrafos aqui dialogam com a diversidade imagética e nos convidam a um mergulho para compreender as diferenças e similaridades entre espaço, organização de cada região do globo e as respectivas faces desses que expressam alegria, curiosidade e a esperança de se ter uma moradia digna. Eles iluminam uma questão crucial que enfrentamos hoje, quando mais de 20% da população mundial vive em condições precárias e exposta a riscos de saúde.

Procure ver mais de perto estas paisagens e retratos e perceba as técnicas, estéticas e a ética que os oito fotógrafos imprimiram em seus olhares, que nos levam a uma jornada singular pelas moradias em 12 países. É tentador dizer que essas fotos falam por si mesmas. Sim, elas podem falar, mas só se o visitante tiver um olhar atento e empático para a riqueza de detalhes apresentada em cada painel.

A maioria das pessoas sonha em ter um lugar para chamar de seu. Esse espaço é a casa, é um bem material, e serve de base para os seres humanos satisfazerem as necessidades básicas do transcendente e do intangível, como o amor, as relações, a felicidade, o pertencimento, a dignidade e a família, seja ela composta por mães solo, pessoas LGBTQIAP+ ou da terceira idade.

Por fim, seria interessante lembrar as muitas perguntas que afloraram desde o início desta pesquisa, tais como: Com quais destas imagens me identifico? Quais delas realçam os meus privilégios? Estou exercendo a empatia, a compaixão e o afeto por quem não tem moradia digna? O que tenho feito para mudar essa situação?

Esperamos que esta jornada visual provoque reflexões sobre o morar, na busca de um mundo mais democrático, sustentável, tolerante e com justiça social para todos. A expectativa é de que estas imagens deixem por muito tempo em nossa consciência a pergunta: Onde mora a esperança?

João Kulcsár
Curador